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Cozinha do Bem promove boa alimentação do paciente

Se uma boa alimentação é fundamental para a saúde de qualquer um, muito mais para quem está em tratamento contra o câncer. Mais do que nunca, o corpo tem que estar bem nutrido. O paciente precisa de muita energia para enfrentar o tratamento e manter a imunidade. Só que o tratamento quimioterápico provoca efeitos colaterais que prejudicam a alimentação.

Em 2018, para ajudar os pacientes a superar essa dificuldade, o Centro de Tratamento Oncológico criou o programa Cozinha do Bem. Idealizado pela nutricionista oncológica Kelly Oliveira, o programa consiste, primeiramente, na escolha de ingredientes capazes de combater efeitos colaterais como falta de apetite, alteração no paladar, saciedade precoce, boca seca e outros. Depois, é só utilizar esses ingredientes da melhor maneira possível. Ou seja, em receitas gostosas, de fácil aceitação. Missão para o chef Felipe Gemaque, convidado por Kelly para uma aula-show. O salão de quimioterapia foi preparado para receber uma plateia de 30 pessoas. A maioria, acompanhantes, familiares ou não, que cozinham para os pacientes. Mas alguns pacientes, que gostam de cozinhar, também fizeram questão de participar.

“Esta é a edição inaugural do programa e ele faz parte de algo maior, porque nos preocupamos não só com o paciente, mas também com o cuidador, que quer ajudar e precisa saber como fazer da melhor maneira possível”, explica a diretora clínica Paula Sampaio. “Uma dúvida muito frequente é em relação à alimentação, porque chega uma hora, no decorrer do tratamento, que a família percebe que o paciente fica um pouco mais enjoado. Nós sabemos que isso não é manha, que faz parte do tratamento esse tipo de reação. Geralmente, as medicações utilizadas têm um impacto importante no paladar e afetam o sabor dos alimentos – é o que chamamos digelsia, uma perversão do paladar, que altera a sensação gustativa. Por isso, iniciativas como essa são bem-vindas para superar o problema e buscar o bem-estar do paciente, de uma forma educativa e divertida também”, finaliza a oncologista.

Cozinha do bem – comida gostosa é garantia de alto-astral e aconchego, ingredientes tão necessários para a vida, muito mais durante o tratamento de uma doença.  Uma alimentação equilibrada faz parte do processo de recuperação. Bem nutrido, o corpo reage melhor às medicações, ganha energia para enfrentar as terapias necessárias e é capaz de driblar eventuais infecções que possam aparecer. “Minha preocupação principal é com o sabor, para que as pessoas sintam prazer em comer”, explica o chef Felipe Gemaque. “Por isso, foram várias conversas com a nutricionista Kelly Oliveira para entender o que os pacientes precisam e como adaptar receitas para traduzir isso em pratos bonitos, gostosos, da comida boa que alegra, anima, aconchega e também trata”. Avalia.

Segundo a nutricionista Kelly Oliveira, os ensinamentos do chef Felipe Gemaque vão ajudar o paciente a entender por que o corpo precisa de alguns alimentos e como alguns nutrientes podem ser valiosos para contornar os efeitos colaterais como enjôos, boca seca, dificuldade para engolir e perda de apetite. “O tratamento muitas vezes é penoso, difícil, mas é importante buscar alternativas. Nem sempre uma dieta restritiva é indicada. O mais importante é ter no prato os nutrientes necessários. Quanto mais colorido for o prato, melhor, e se puder preparar de forma agradável para o paciente, melhor ainda”, explica a nutricionista.

Para a aula-show, foram selecionadas cinco pratos fáceis de preparar, com ênfase no sabor que os temperos e ervas podem provocar no resultado final. Na bancada montada pelo chef, muitos legumes, verduras, ervas e temperos, com a promessa de surpreender as pessoas com as combinações de sabor. Entre os ingredientes, destaque para os produtos regionais como cumarú, jambú e castanha do Pará. “É incrível ver como esses alimentos que fazem parte da nossa cultura podem ser usados de formas diferentes e como alguns nutrientes podem ser valiosos para contornar as reações que podem surgir ao tomar alguns dos remédios”, destaca a nutricionista Kelly Oliveira.

Todos receberam um folder com as receitas do cardápio, para acompanhar o modo de preparo, as técnicas usadas e as dicas do chef para potencializar o sabor. A aprovação veio a cada degustação feita pelos pacientes e cuidadores.

Gicely Lopes acompanha a mãe no tratamento e reconhece como é difícil acertar a mão na hora de preparar os alimentos para ela. “É difícil, porque não somos profissionais, estamos acostumados a fazer a comida do mesmo jeito todo dia e tem hora que ela não quer mais aquilo. Come pouco, duas ou três colheradas e não quer mais. E hoje, essa aula trouxe algo que a gente pode explorar na comida do dia a dia, como uma carne assada, com algo especial, completamente diferente do que estamos acostumados”, diz ela. “Foi uma surpresa ver como o sabor veio como uma explosão na boca, e com coisas simples, esses temperos que a gente tem em casa, mas não usa muito. Eu tenho açafrão, mas quase nunca uso. Agora vou tentar preparar pratos dessa maneira”, garante.

Para Élcio Arruda, que se assume como um cozinheiro de final de semana, participar do Cozinha do Bem aconteceu na hora certa. “Minha esposa, Elana, está em tratamento e passa pela fase de enjoos pós-quimioterapia, ficou com o paladar alterado, e eu vim em busca de mais opções de alimentação para ela, aprendi um absurdo hoje, inclusive dicas como a de oferecer porções pequenas, e as receitas trazidas pelo chef nos mostraram novidades na forma de preparo, temperos diversos”, diz ele. “Fiquei surpreendido com a facilidade de fazer esses pratos e, sobretudo, pela variedade de ingredientes e temperos como a pimenta, a chia, o jambú, que podemos usar. Eu tinha vontade de fazer coisas assim, mas tinha medo de não dar certo. Mas nesse fim de semana já vou me arriscar em casa, vou tentar preparar algo para minha esposa com o que aprendi aqui”, conclui.

A expectativa é de que outras edições do Cozinha do Bem sejam realizadas, com a participação de outros chefs e cardápios diferentes.

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